Uma proposta terminológica
Olha, eu sei que vai parecer loucura, mas prestem atenção a essa proposta, e reflitam sobre ela com carinho.
Quando me dei conta de que muita coisa no mundo não fazia sentido, decidi que as faria ter sentido para mim. É a isso que recorro quando não encontro um sentido, uma lógica: eu crio. E assim vivo a vida, e assim tem sido desde meus vinte e poucos anos, e graças a isso estou mundo bem, obrigado.
Também reinvento ou adapto certas coisas para que sejam mais compatíveis com minha visão de mundo. Eu gosto de lógica, objetividade, coerência matemática. Na escrita, pertenço ao grupo dos contadores de palavras. Consigo iniciar um projeto e dizer “terá duas mil palavras”, “terá duzentas mil”. Sei que não faz sentido para a maioria das pessoas, mas faz sentido pra mim e no fundo é isso que importa, afinal é da minha vida que estamos falando.
Mas quero propor aqui um negócio para a vida de todos nós, escritores e leitores, e sei de pronto que muita gente vai recusar sem sequer pensar a respeito (outros encontrarão desculpas esfarrapadas, conveniências curriculares, coisas assim), embora eu acredite que uma ou outra pessoa me dará ouvidos. Ou melhor, olhos, que seja.
Seguinte: acho que deveríamos parar de chamar romance de romance. Isso mesmo, escritores e leitores do meu querido Brasil, deveríamos parar de chamar romance de romance.
Como deveríamos chamá-los? Novela. Reorganizando os conceitos, as coisas ficariam assim:
Novela (o que hoje chamamos de romance);
Noveleta (o que hoje chamamos de novela);
Conto (continua sendo conto).
“E como chamaríamos aquelas produções audiovisuais que transmitem na TV aberta, Denser?”
“Telenovela, porra.”
“Tá, mas e o que faríamos com o termo romance?”
“Usaríamos para deixar bem claro que nossa novela é romântica e não uma novela de horror, ou uma novela policial.”
“Acho que peguei a ideia, Denser. Além disso, seria uma tradução mais aproximada de ‘novel’, do inglês, e evitaria que algumas pessoas entendessem muito equivocadamente o que queremos dizer quando falamos que estamos escrevendo um romance, certo?”
“Exatamente, baby. Exatamente.”
“A academia vai te odiar.”
“Já me odeiam.”
Pois bem: é essa a proposta. O mundo se torna mais claro, mais lógico, mais objetivo, mais arrumadinho. Eu sei que “mudanças na linguagem e ressignificação de conceitos não acontecem por imposição institucional ou coerência retórica”, eu sei, mas, como eu disse, é só uma proposta. Faz anos que eu acho que deveria ser assim. Odeio escrever histórias sem nenhum romance e ter que explicar que “meu romance não é romântico”, ou fazer contorcionismo retórico para alcançar a clareza (“estou escrevendo um livro de ficção” quando poderia dizer apenas “estou escrevendo uma novela”).
Talvez tenha pessoas tão aborrecidas com isso quanto eu aí do outro lado, é para elas que escrevo.