O sexto sentido, 20 anos depois
Ontem decidi rever O sexto sentido, de Shyalaman, para confirmar uma velha teoria minha.
Na verdade deve ter mais de vinte anos que vi O Sexto Sentido pela primeira vez, e não apenas vinte, como sugere o título desse post. Mas vamos arredondar porque faz mais ou menos isso mesmo, e eu não tenho como verificar nesse momento o tempo exato (dependeríamos do canhoto feito com papel carbono lá na locadora do Crê, que nem existe mais).
Bom, ontem estávamos procurando um filme de horror para assistir, e após quase uma hora procurando, sem sucesso, algo que valesse nosso precioso tempo nos principais streamings, decidimos assistir O sexto sentido (eu porque já planejava rever, Raquel porque ainda não tinha visto).
Eu, naturalmente, já conhecia todo o plot. Na época em que foi lançado o filme chegou a causar um impacto tão grande que era comum que todos os grupos de aficcionados por cinema discutissem a genialidade revolucionária do roteiro, a condução firme da direção daquele diretor sobre o qual cairia, nos anos que se seguiram, a fama de gênio e até mesmo a expectativa de que fosse um “novo Alfred Hitchcock”. Era impossível não lembrar de alguns detalhes, sobretudo por causa do impacto emocional que causaram na época.
Assim, assisti com minha atenção voltada para os truques que a direção utilizou para evitar que os espectadores previssem ou adivinhassem o gran finale. E de fato: o Shyalaman foi mesmo um maestro aqui. É o tipo de filme que se você assiste sem saber nada a respeito, mesmo hoje, depois de a fórmula ter sido repetida ad nauseam, você ainda se surpreende. Gosto particularmente da cena em que o Shyalaman, através da interação entre o personagem de Bruce Willis e o de Haley Joel Osment, parece brincar com a ideia de truque de mágica. Nela, o psícologo infantil interpretado por Willis finge fazer um truque com uma moeda, transferindo-a da mão esquerda para a mão direita, da mão direita para o bolso do paletó, do bolso do paletó de volta para a mão esquerda, ao que o personagem de Osment comenta que aquilo não é uma mágica porque a moeda esteve na mão esquerda o tempo inteiro. É quase como se, na visão do diretor, Willis fosse a moeda, e ele, Shyalaman, o homem que a sacode na nossa frente, fingindo-a transferir de um lugar para o outro enquanto ela permanece no mesmo lugar de sempre. Quase dá pra ouvi-lo dizer: “o Willis está morto o tempo inteiro, seus bobões, mas vocês só vão descobrir isso quando EU quiser”.
Foi divertido, mais divertido do que muita coisa que tenho visto ultimamente. E confirma uma velha teoria minha: a de que O sexto sentido é de fato a obra-prima do Shyamalan, o que de certa forma não deixa de ser algo triste e me remete a uma entrevista de Stephen King, na qual ele diz algo mais ou menos assim (cito de cabeça): “Muitos leitores dizem que o meu melhor livro é A dança da morte. É um pouco triste pensar que a melhor coisa que já escrevi é algo que fiz há mais de quarenta anos.”