— A VIDA ERA PRA SER DIFERENTE DISSO, CARA.
Calango preferiu não desenvolver o raciocínio. Talvez achasse que aquela simples declaração fosse suficiente, que ela sintetizava todo um tratado filosófico, expunha uma verdade deveras óbvia e autoevidente. Pereira o observou com indiferença, depois voltou a olhar para a pista. Era um homem pragmático, mais preocupado em cumprir suas obrigações de boca fechada e sem refletir muito a respeito. Pensar demais era perigoso naquele negócio. Sua filosofia pessoal desde que começara era faça o seu, pegue o seu e dê o fora.
Estavam atravessando um trecho particularmente entediante da BR-230, mas ele estava cansado e precisava se manter acordado. Embora àquela hora não houvesse qualquer coisa que pudesse chamar de trânsito, um vacilo e eles rolariam penhasco abaixo em direção ao rio que os matutos da região chamavam de Rio do Louva-a-Deus, sabe lá por quê. Se a única forma de se manter acordado era dar atenção às abobrinhas existenciais de Calango, o que podia fazer?
— Entende o que quero dizer?
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