Ano passado eu resolvi criar uma newsletter com o objetivo de publicar minhas crônicas. Colapso ainda estava com a editora e sua futura publicação era segredo de estado, de modo que essa era mais uma tentativa de minar um pouco o que eu costumo chamar de Febre do Limbo. Sei que muitos dos meus pares não sofrem tanto com isso, mas para mim ficar muito tempo sem publicar algo me causa comichões, fissura, insônia e, honestamente, não me surpreenderia se um dia viesse a causar delirium tremens, embora não esteja disposto a ficar sem publicar tempo suficiente para descobrir.
Uma dica que meu editor me deu certa vez e que costumo reproduzir para meus alunos é que é uma ótima ideia encontrar algo para fazer entre um livro e outro. No meu caso, desconfio que a melhor coisa é começar a escrever um novo livro imediatamente, mas entendo que isso nem sempre é possível.
Bom, aqui há uma pequena lista de coisas que considero bastante apropriadas e não tão complexas:
Publicar contos: você pode fazer isso no KDP, blogs, revistas (e pasmem, embora infelizmente isso não seja comum no Brasil, algumas até pagam por isso);
Conseguir uma coluna permanente em algum portal;
Tradução: é uma boa, se você domina outra língua e principalmente se você tem a sorte de traduzir o que gosta;
Manter um blog ou uma newsletter.
Vamos ficar nessas quatro porque o texto não é sobre isso. Como eu ia dizendo, ano passado eu estava quase enlouquecendo com a Febre do Limbo, e como estava meio sem saco pra reativar meu blog, criei uma newsletter por influência da
, onde planejava publicar crônicas cotidianas. O título escolhido foi A Flor do Labirinto, e essa foi a explicação que dei na crônica de abertura:Eu precisava de um título que fizesse sentido, e embora meu primeiro impulso fosse batizar esse substack como Avenida da Maldade, percebi que se o fizesse estaria limitando a percepção sobre que tipo de material encontrariam aqui. Como não publicarei apenas insultos (ver Mencken), mas também memórias, confissões e considerações, optei por A flor do labirinto, um título que a meu ver abrange todas essas coisas. A imagem realmente me ocorreu, e se já o há na Literatura, não o sei nem procurei saber: é que uma das coisas que faz do labirinto um labirinto é o mais do mesmo de suas paredes, e que se em algum momento surge, se da parede mesma ou quiçá do chão, uma flor qualquer que seja, esta se destacará das demais vias: ei-la, a flor do labirinto é a crônica que nasce do banal, e embeleza o caminho por onde vamos perdidos.
“Ah, que maneiro, Denser. Mas por que a newsletter acabou mesmo?”
Porque como eu disse: a ideia era publicar crônicas cotidianas. Apenas crônicas. Cotidianas. E isso estava me deixando maluco porque 2023 foi um ano bastante corrido (mudanças, perrengues, coisas assim), e chegou uma hora em que precisei reduzir o peso para voltar a ganhar altitude, para usar uma metáfora aeronáutica. Mas a boa notícia é que não vou mais limitar o conteúdo, e me darei maior liberdade para publicar no ritmo que me for mais confortável. Nesse substack eu resolvi publicar o que eu bem entender, de crônicas a entrevistas e, quem sabe, até minhas antipoesias, por que não?
Mas resolvi manter o título. Sabe, deixem-me fazer uma confissão: eu não sou um grande criador de títulos, como o
, que na minha opinião é um gênio dessa arte (ele é autor de um título que me causa arrepios de inveja literária até hoje: Morte Sul Peste Oeste), por isso quando encontro um título que considero bom o bastante, me agarro a ele não importa com quem eu tenha que cair na porrada. Por isso resolvi manter o título A Flor do Labirinto, porque é bonito e continua fazendo sentido para mim, embora talvez não faça tanto sentido pra vocês. Não sei. São conceitos que estão de algum modo entranhado na minha psique, e que finalmente se encontraram pra fazer algo juntos.Cinquentenário de Carrie, Stephen King, outras coisas
Hoje Carrie faz 50 anos. Stephen King publicou em seu Twitter que é difícil acreditar que ele esteja vivo para testemunhar isso (se você é escritor, hora de parar pra pensar em seu primeiro livro, e em que idade você terá quando ele fizer cinquenta anos de sua primeira publicação). No meu caso é meio triste porque publiquei tarde então certamente não verei isso, mas tudo bem. Tudo bem. Não é sobre isso que pretendo falar, é sobre Carrie (e sobre King, e sobre outras coisas):
Carrie foi o terceiro ou quarto livro de King que eu li. Na época ele já era a minha maior referência literária, o escritor do qual eu mais gostava, o cara do qual me lembrava quando pensava em que tipo de escritor eu gostaria de ser: "um escritor que escreve boas histórias, só isso". É estranho lembrar daquela época. Estranho mesmo. Meu mundo era menor, mas parecia maior; minhas paixões eram mais entusiasmadas, incendiárias, dedicadas; eu costumava ler mais. Muito, muito mais.
Okay, pessoal, eu sei que é normal que um jovem adolescente da era pré-internet tivesse mais tempo e foco disponível para dedicar à leitura e aos livros e a qualquer outra coisa que quisesse dedicar o seu tempo. Eu sei.
Mas lembrar disso por algum motivo me causa um desconforto a ponto de doer, uma sensação de que algo se perdeu, de que eu mesmo, de alguma forma, me perdi. E toda essa história do cinquentenário de Carrie me fez resgatar lembranças variadas, por exemplo: a edição que li foi essa que ilustra o texto e eu ainda lembro do cheiro dela, a mãe de uma das garotas de nosso grupo era uma evangélica muito rigorosa e acabou se tornando conhecida entre nós como Margaret White (até hoje!), eu passei horas tentando desenvolver meus poderes telecinéticos (para uma criança dotada de imaginação não existem absurdos). Tudo isso tem a ver com Carrie, com Stephen King, com outras coisas, e é por isso que eu não poderia deixar passar em branco. Não totalmente.
E ah, eu também preciso deixar registrado aqui o meu agradecimento: Obrigado, Kingão, sua obra, não apenas Carrie, mas toda a sua obra, tem feito uma baita companhia para mim ao longo de todos esses anos.
Vida longa ao rei!
Vida longa ao rei!
Vida longa ao rei!
Grato pela menção elogiosa. 🙌